O uso político do Parnahyba e a velha dependência do dinheiro público
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| 📷Parnahyba em ação © Walter Fontenele |
As declarações do presidente do Parnahyba Sport Club, Eureliano Barros, expõem mais que um conflito com a Prefeitura e o gestor municipal: revelam um modelo ultrapassado em que clubes privados esperam que o poder público sustente o que deveria ser financiado pela própria estrutura do futebol e pela iniciativa privada.
As falas recentes de Eureliano Barros soam como um desabafo, mas também como sintoma de um problema antigo. Quando ele diz que o prefeito “prometeu ajudar o time”, que não demonstra “sensibilidade” e que o clube serve apenas “para pedir voto”, não está apenas expondo um conflito circunstancial. Está abrindo, sem querer, uma janela para a lógica que mantém o futebol local preso ao improviso e à dependência do dinheiro alheio - sobretudo do dinheiro público.
O Parnahyba tem história, tem camisa e tem o peso simbólico de um clube que atravessa gerações. Mas a força cultural não substitui o que o futebol exige há muito tempo: profissionalização, planejamento e independência financeira. Quando o presidente afirma que vai “botar time nem que tenha que pedir ajuda de porta em porta”, ele resume o contraste entre a paixão e a falta de estrutura que marca o clube há décadas.
O ponto, porém, não é se o prefeito gosta ou não gosta do time. O ponto é outro: deve um clube privado depender do orçamento da prefeitura para existir? A resposta, por mais incômoda que seja, é não. Em qualquer cidade, dinheiro público deveria ser exceção, nunca regra. E nunca moeda de troca política.
A comparação feita por Barros - um cantor que recebe cifras altas por um show enquanto o clube luta para disputar três meses de competição - é um argumento emocional que, apesar de valido, ignora o fundamento da questão. Um erro na gestão de eventos não legitima outro erro no financiamento esportivo. Ambos são decisões questionáveis, porque ambos saem do mesmo cofre: o caixa do contribuinte. Saúde, educação, saneamento e infraestrutura não são acessórios; são prioridades.
O futebol não deixa de ser cultura, mas isso não significa que um clube privado possa funcionar como extensão do poder público. Essa mistura - clubes que esperam verba municipal e políticos que tratam o clube como palanque - interessa a muita gente, menos ao torcedor. Enquanto a prefeitura precisar ser sempre chamada para “ajudar”, nada muda na raiz do problema. E o clube continua patinando entre promessas, telefonemas não atendidos e frustrações que se repetem a cada temporada.
O que falta não é sensibilidade da prefeitura. O que falta é um modelo de gestão que vá além do pedido de última hora. O Parnahyba tem potencial para caminhar com as próprias pernas, mas isso exige trabalho estruturado: captação privada, programa de sócio torcedor forte, transparência, parcerias comerciais permanentes e um planejamento que não comece do zero todo ano.
As queixas de Eureliano Barros revelam um desconforto real, mas também expõem um vício antigo que a cidade já naturalizou. A paixão azulina não precisa ser alimentada pelo cofre público. Precisa ser alimentada por organização, autonomia e responsabilidade. Enquanto isso não for enfrentado, o mesmo ciclo continuará: promessa, cobrança, silêncio e mais uma temporada marcada pela improvisação.
Por Walter Fontenele | Portalphb


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