A depressão sob a ótica espírita: uma leitura entre o espírito e a ciência
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| 📷Imagem Ilustrativa © Reprodução |
O Espiritismo propõe compreender a depressão como um fenômeno que envolve não apenas o corpo e a mente, mas também o espírito, integrando dimensões morais e existenciais que desafiam a medicina tradicional.
A depressão, frequentemente tratada apenas como uma disfunção bioquímica ou um transtorno emocional, assume, na visão espírita, contornos mais amplos. A doutrina codificada por Allan Kardec entende o ser humano como um composto de corpo, perispírito e espírito, o que implica considerar o sofrimento psíquico como uma experiência que ultrapassa a fronteira da matéria.
Em O Livro dos Espíritos, Kardec (1860) já observava que “as causas de muitos males corporais estão na alma”, indicando que a origem de certos distúrbios pode estar ligada a desequilíbrios espirituais, inclusive oriundos de encarnações anteriores. Essa perspectiva amplia o entendimento da depressão, situando-a não apenas como uma enfermidade da mente, mas também como um sinal de desajuste do espírito em seu processo evolutivo.
Segundo o médium e orador Divaldo Franco, em Depressão e Cura Espiritual (2011), “a depressão é o grito silencioso da alma que não encontra sentido na própria existência”. A frase sintetiza a concepção de que o sofrimento emocional profundo não se limita ao campo psicológico, mas reflete uma necessidade de reconexão interior, de reencontro com valores espirituais esquecidos ou negligenciados.
A psicóloga e espírita Suely Caldas Schubert, em "Obsessão e Desobsessão" (1981), sustenta que muitas formas de depressão podem estar associadas a processos obsessivos, nos quais espíritos desequilibrados influenciam emocionalmente os encarnados. No entanto, ela faz uma distinção importante: nem toda depressão decorre de influência espiritual; muitas são, de fato, doenças de ordem orgânica e devem ser tratadas com acompanhamento médico e psicológico.
Essa posição conciliatória é coerente com o princípio espírita de que a fé e a razão devem caminhar juntas. Emmanuel, espírito orientador de Chico Xavier, reafirma essa integração em Pensamento e Vida (1958): “O médico trata o corpo, o psicólogo orienta a mente, mas a reforma íntima cura a alma”. Ou seja, o tratamento espiritual, segundo a doutrina, deve ser complementar - nunca substitutivo - à medicina tradicional.
O Espiritismo propõe, portanto, um tratamento integral: o uso responsável dos recursos da medicina e da psicoterapia aliado à prece, ao passe e ao estudo moral do Evangelho. Essa combinação busca restaurar o equilíbrio entre corpo, mente e espírito.
Mais do que negar a ciência, a visão espírita da depressão propõe um diálogo com ela, reconhecendo os avanços da psiquiatria e da psicologia, mas convidando o indivíduo a olhar para dentro de si. Em tempos em que a depressão é considerada a “doença do século”, a doutrina espírita oferece uma leitura que não se limita à dor, mas a interpreta como parte de um processo de autoconhecimento e evolução.
Referências
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
FRANCO, Divaldo Pereira. Depressão e Cura Espiritual. Salvador: LEAL, 2011.
SCHUBERT, Suely Caldas. obsessão e desobsessão. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981.
XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de Emmanuel). Pensamento e Vida. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1958.
Por Walter Fontenele | Portalphb


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