Fux virou o jogo?

Ministro Fux
📷Ministro Fux © Reprodução
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Por Renato Esteves (Pós graduado Direito Civil e Processual)

Assisti a todo o interrogatório. E, pra ser sincero, FUX foi o que mais me intrigou.

Em um processo "normal", seria improvável imaginar um ministro do Supremo abrindo mão de suas funções para participar de um interrogatório conduzido por outro colega. Mas Fux foi. Sentou. Ouviu. E quando resolveu falar, foi fulminante.


Fux fez o que a defesa deveria ter feito.

A participação dele foi discreta, mas cirúrgica. Cada pergunta parecia mirar diretamente na narrativa de Moraes e Gonet - não para sustentá-la, mas para desmontá-la.

👉 “Foram várias colaborações... Mas no conjunto, o mesmo assunto foi tratado mais de uma vez?”

Sugeriu que as delações podem ter sido manipuladas ou adaptadas com o tempo. Isso compromete a confiança nas provas.

👉 “O que o senhor quer dizer com bravatas?”

Ao pedir explicações, Fux insinua que os tais “planos golpistas” podem ser apenas conversas infladas, típicas de grupo de WhatsApp - e não ações reais.

👉 “Esse documento foi assinado?”

A pergunta escancara: o famoso “decreto do golpe” nunca passou de rascunho. Sem assinatura, sem validade jurídica.

👉 “A reunião foi gravada ou grampeada?”

Fux levanta uma questão delicada: a legalidade da gravação. Se for considerada ilegal, a prova pode cair.

Ou seja, Fux não jogou no time da acusação. Assumiu o papel da defesa. E isso muda tudo.

Um teatro mal encenado

Mas não foi só o conteúdo que chamou atenção. O clima da audiência falava por si.

Piadinhas, risos, um tom quase informal. Isso diante de pessoas acusadas de tentativa de golpe de Estado. Vocês viram esse clima em julgamentos do PCC? Do Comando Vermelho? Ou mesmo em Nuremberg?

Pois é. Ontem teve. Principalmente com Bolsonaro.

E o que isso mostra? Que nem o próprio juízo vê criminosos perigosos ali. Vê adversários políticos, alvos de uma narrativa que agora desmorona.

O jogo virou?

Sem cortes, sem manchetes, sem roteiros da imprensa: quem assistiu ao vivo viu um processo político em colapso. E tudo indica que a saída será silenciosa.

Com a narrativa ruindo, uma anulação técnica pode ser a válvula de escape. Um jeito de enterrar o escândalo sem explosões.

Talvez seja isso que Fux esteja desenhando. E, com isso, Moraes possa salvar o que resta da imagem institucional do STF - ou quem sabe até a própria carreira.

Mas atenção: Fux não é herói.

Não se engane. Fux não está salvando ninguém. Está salvando a si mesmo.

O objetivo dele parece claro: preservar o prestígio da Corte. Evitar que tudo isso manche ainda mais o Supremo.

O que está em jogo aqui não é apenas o desfecho de um processo, mas a imagem de um Tribunal que cruzou linhas demais nos últimos anos.

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