Estudo das Ciências Sociais: O Conceito de Suicídio na Sociologia de Émile Durkheim

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Este é o quarto de uma série de estudos das Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia e Ciência Política) que elaboraremos ao longo do ano, tendo como objetivo principal explicar alguns conceitos-chaves que foram desenvolvidos por grandes clássicos teóricos, ao longo do tempo.

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Resumo:

Este artigo tem como objetivo explorar o conceito de suicídio proposto pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917). Durkheim considerava o suicídio não apenas como um fenômeno individual, mas também como um fenômeno social, influenciado por fatores estruturais e culturais. Através de sua obra clássica "O Suicídio: Um Estudo em Sociologia", publicada em 1897, Durkheim apresenta uma análise pioneira e abrangente sobre as taxas de suicídio e os fatores sociais que as influenciam.


Introdução:

O suicídio é um tema complexo e delicado que tem sido objeto de estudo em diferentes disciplinas ao longo da história. Émile Durkheim, considerado um dos fundadores da sociologia moderna, ofereceu uma perspectiva única e inovadora sobre esse fenômeno. Ao investigar as taxas de suicídio em diferentes sociedades e categorias sociais, Durkheim identificou padrões e relações sociais que influenciam a ocorrência do suicídio.

Contexto Histórico e Teórico:

Para compreender o conceito de suicídio de Durkheim, é importante situá-lo no contexto histórico e teórico em que ele foi desenvolvido. Durkheim viveu na segunda metade do século XIX, um período marcado por mudanças sociais, industrialização e transformações nas estruturas sociais. Sua abordagem sociológica buscava entender como os indivíduos são moldados pelas estruturas sociais e como essas estruturas influenciam seus comportamentos.

O Suicídio como Fenômeno Social:

Durkheim defendia que o suicídio não pode ser explicado exclusivamente por fatores individuais, como doenças mentais ou fraquezas pessoais. Ele argumentava que o suicídio é um fenômeno social com causas e padrões específicos. Durkheim categorizou o suicídio em quatro tipos: suicídio egoísta, suicídio altruísta, suicídio anômico e suicídio fatalista. Cada tipo reflete diferentes dinâmicas sociais e graus de integração do indivíduo na sociedade.

Suicídio Egoísta:

O suicídio egoísta ocorre em sociedades onde há uma baixa integração social. Nesses casos, os indivíduos experimentam uma falta de conexão e laços sociais significativos. Sentem-se isolados e alienados, sem uma rede de apoio social forte. Esse tipo de suicídio é caracterizado por uma ênfase excessiva no eu e uma falta de sentido de pertencimento a um grupo. A ausência de laços sociais e a falta de integração podem levar à autodestruição como uma forma de escapar da solidão e do vazio emocional.

Suicídio Altruísta:

O suicídio altruísta ocorre em sociedades onde há uma alta integração social, mas de uma forma que pode ser excessiva. Nessas sociedades, os indivíduos têm uma forte identificação com seu grupo social e estão dispostos a sacrificar suas vidas em nome do coletivo. Esse tipo de suicídio está relacionado a um senso extremo de dever e obediência às normas sociais. Pode ocorrer em contextos onde existe uma pressão intensa para se conformar aos valores e expectativas sociais, a ponto de indivíduos estarem dispostos a se autodestruir em prol do bem-estar da comunidade. Um exemplo desse tipo de suicídio: os piloto kamikazes, na Segunda Guerra Mundial.

Suicídio Anômico:

O suicídio Anômico ocorre em sociedades onde há uma falta de normas sociais e regulamentações claras. Durante períodos de mudanças sociais rápidas, rupturas ou crises, as estruturas sociais podem se desintegrar, resultando em um estado de anomia. Nesse contexto, os indivíduos podem se sentir perdidos, sem orientação ou um senso de propósito. A ausência de regras e valores sociais estáveis pode levar à incerteza e à falta de sentido na vida, contribuindo para o aumento do suicídio Anômico.

Suicídio Fatalista:

O suicídio fatalista ocorre em sociedades caracterizadas por uma opressão extrema, onde os indivíduos vivenciam uma submissão absoluta às regras e regulamentos sociais. Nessas circunstâncias, os indivíduos podem sentir que não têm esperança de mudança ou melhoria em suas condições de vida. O suicídio fatalista ocorre quando a repressão e a falta de perspectiva futura se tornam insuportáveis, levando ao desejo de escapar por meio da autodestruição.

Fatores Sociais e Suicídio:

Durkheim identificou diversos fatores sociais que influenciam as taxas de suicídio. Um desses fatores é a solidariedade social, que pode ser dividida em solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A solidariedade mecânica, presente em sociedades tradicionais e com forte coerção social, está associada a taxas mais baixas de suicídio. Por outro lado, a solidariedade orgânica, característica das sociedades modernas e complexas, apresenta taxas mais altas de suicídio.

Essas categorias de suicídio propostas por Durkheim ajudam a destacar a importância dos fatores sociais na compreensão desse fenômeno complexo. Durkheim argumentava que o suicídio não pode ser explicado exclusivamente por fatores individuais, mas também deve ser compreendido dentro de um contexto social mais amplo.

Contribuições e Críticas:

O trabalho de Durkheim sobre o suicídio foi uma contribuição significativa para a sociologia e estabeleceu as bases para análises posteriores sobre o tema. No entanto, sua abordagem também recebeu críticas. Alguns questionaram a rigidez de suas categorias de suicídio e argumentaram que ele subestimou a influência dos fatores individuais e psicológicos.

Conclusão:

O conceito de suicídio de Émile Durkheim representa uma importante contribuição para a sociologia e o entendimento do suicídio como um fenômeno social complexo. Durkheim demonstrou que o suicídio não é apenas uma questão individual, mas está enraizado em fatores sociais e culturais. Seu trabalho continua sendo relevante nos estudos contemporâneos sobre o suicídio, fornecendo uma base teórica para pesquisas futuras.

Para estudantes e entusiastas das Ciências Sociais, recomendamos o Livro "Suicídio - Estudo de Sociologia", de Émile Durkheim.



Referências Bibliográficas:

Durkheim, É. (1897). Le Suicide: Étude de sociologie. Paris: Félix Alcan;

Coser, L. (1973). Émile Durkheim: Suicide and Solidarity in Society. In Masters of Sociological Thought: Ideas in Historical and Social Context (pp. 100-131). Harcourt Brace Jovanovich;

Taylor, S., & Francis, P. (2003). Suicídio. In Dicionário de Teoria Social (pp. 471-473). Editora Unesp;

Baumann, Z. (1992). Émile Durkheim and the Moral Sources of Society. In Mortality, Immortality and Other Life Strategies (pp. 56-67). Polity Press.


📑Por Walter Fontenele (Licenciado em Ciências Sociais-Uespi-2021) | Portalphb

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