The Botafogo way: John Textor explica como identidade que quer ver no time influencia gestão do futebol

Jonh Textor, CEO do Botafogo
📷Jonh Textor, CEO do Botafogo
🏠Rio de Janeiro (RJ)

John Textor não é um homem do futebol, a considerar que a maior parte de sua trajetória profissional passa por companhias de mídia e tecnologia. Ou melhor: ele não era um homem do futebol. Com o verbo no passado.

Hoje proprietário de três clubes – Botafogo, Crystal Palace e Molenbeek –, o empresário americano assiste a 250 jogos por ano, estuda o esporte e tem noção clara do que pretende ver em campo nesses times.

De acordo com Textor, "the Botafogo way" (o estilo botafoguense, em tradução literal, menos charmosa do que a versão em inglês) passará por zagueiros habilidosos e com sangue frio, que saibam dominar a bola e distribuir jogadas, mesmo sob pressão. Velocidade em todas as posições, sobretudo nas laterais. Deve haver prioridade pela posse da bola, mesmo quando pressionados por rivais quando o time estiver no ataque.

Quero que fique claro daqui a três ou cinco anos que existe um estilo Botafogo. Quero que as pessoas nos vejam jogar da base até o profissional e reconheçam o que nós estamos tentando fazer.

As diretrizes foram explicadas pelo próprio empresário, em conversa de 40 minutos gravada no sábado. Ele estava ligeiramente incomodado com versões conflitantes que chegaram à opinião pública no decorrer da semana, em relação a decisões que tomou no departamento de futebol, entre demissões e trocas de profissionais. E não foram poucas.

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Enderson Moreira, técnico que conquistou a Série B no ano passado, foi demitido na sexta-feira. Na direção do futebol, André Mazzuco foi contratado para ocupar a função de Eduardo Freeland, que por sua vez volta a trabalhar com a base. Alessandro Brito chega para chefiar a análise de mercado e desempenho, oriundo do Atlético-MG. Raphael Rezende, antes na Globo, integra a área de scouting (olheiros).

Por que Enderson foi dispensado? O empresário demonstra gratidão ao técnico por ter levado o clube de volta à primeira divisão, mas afirma que não conseguiu, depois de assistir às partidas alvinegras na temporada passada e na atual, identificar um padrão de jogo para o Botafogo.

Qual foi o nosso estilo de jogo? As responsabilidades dos jogadores... Estava claro o que eles tentavam fazer? Qual era a identidade? Você pode falhar no que está tentando fazer, mas você pode ver o que está sendo tentado. E eu tive dificuldade de ver o estilo Botafogo – explica Textor.

A busca por uma comissão técnica que consiga implementar o estilo botafoguense está em curso. O americano confirma que Luís Castro, técnico português que passou quase uma década nas categorias de base do Porto, é um dos profissionais com os quais há negociação.

Outros treinadores vêm sendo procurados. Houve duas conversas no Brasil e outras tantas em Portugal, onde Textor acredita que há melhores condições para buscar profissionais para a comissão técnica.

Não apenas pela língua, que não chega a ser o critério mais importante desse filtro, mas pelo fato de que o país se tornou uma "ponte", uma "parada intelectual", entre Brasil e Europa para jogadores brasileiros.

Há uma conexão maior entre Portugal e Brasil. Um desejo, uma inclinação das pessoas de Portugal de olhar para o Brasil e tentar entender o jogo no Brasil, os jogadores do Brasil. Eu acho que essa é uma razão pela qual Portugal se tornou uma ponte tão eficiente entre o estilo de jogo, a criatividade, a capacidade técnica dos jogadores do Brasil e a Europa. É quase um trampolim para os jogadores do Brasil – diz Textor.

As referências de futebol estão por toda a Europa, mas há uma lembrança em particular que Textor gosta de citar. Na vitória do Bayern de Munique sobre o Benfica, por 4 a 0, na fase de grupos da Liga dos Campeões desta temporada, ele ficou encantado com o poder "desmoralizador" do estilo de jogo alemão.

Quando ainda negociava para comprar parte do Benfica, conversa que não se concretizou, o empresário estava no Estádio da Luz, em Lisboa, e gostou de como o Bayern reteve a bola até cansar os adversários. Das arquibancadas, ele percebeu que torcedores mudavam de sentimento conforme o tempo passava, ao notar que a bola não era dominada pelo Benfica. Eles trocaram a noção "nós estamos nesse jogo" por "nós nunca estivemos nesse jogo".

Sempre que o Benfica estava pronto para o desafio, com seus grandes atletas e sua incrível ambição, o Bayern de Munique desmoralizava a pressão tocando a bola. E aí a pressão cansava, a pressão parava. E aí o Bayern de Munique só espera, espera, espera e te destrói.

A considerar que o discurso de Textor está alinhado com práticas em mercados mais maduros, uma pergunta é inevitável, de certa forma até um clichê: seria o americano um fã de Moneyball?

Essa palavra - que virou título de livro e até filme protagonizado por Brad Pitt - remete a Billy Beane, executivo que revolucionou a gestão do Oakland Athletics na década de 1990. A inovação dele foi substituir o palpite pelo uso de dados ao contratar jogadores de beisebol.

E a resposta é... não. Dados precisam ser levados em consideração para tomar decisões ligadas a futebol, segundo o empresário. Mas essa modalidade não deve ser administrada com uma visão puramente científica, e sim por meio da combinação entre "ciência e arte".

Sob algumas críticas por causa das opções que fez para o departamento de futebol, Textor sabe que receberá cobranças da torcida – mais do que qualquer profissional que ele acaba de contratar ou que ainda contratará.

No fim do dia, eu sou a pessoa que fez a promessa aos fãs de que tentaria tudo o que for imaginável para vencer o Flamengo no campeonato. Eu sou a pessoa que será jogada fora se, depois de alguns anos, nós não competirmos por títulos – diz o empresário ao ge.

Por Rodrigo Capelo (Ge)

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